Não sei porque razão nem faço a mais pequena ideia dos motivos pelos quais as histórias conseguem combinar a ficção com a emoção, nem sei como podem pequenas letras misturadas umas com as outras dar o que dão, obras valiosíssimas construídas sob a batuta de uma mão hábil e autenticadas por um pensamento repleto de coisas por inventar e, depois de inventadas, constituem-se achados saídos da cabeça de alguém.
Não sei, julgo não saber, mas, quando lanço os olhos por um livro e o leio com total entrega à tarefa da “degustação” das letras, a resposta manifesta-se a cada frase, paragrafo, página ou capítulo.
A aproximação entre leitor/história ganha forma e desta intimidade a história ficcionada torna-se numa emocionada vivência, pois o poder de uma boa história permite-nos absorver o enredo e no final, a percepção daquilo que se leu aviva os nossos sentimentos, sejam eles quais forem.
Então sei o que até então parecia não saber ou pelo menos não lembrava. Às vezes, esquecemo-nos de nos lembrarmos e quando reavivamos a memória, a lembrança parece descobrir coisas novas, entretanto esquecidas pela ausência do uso.
A leitura contínua aviva sentimentos e assim, os efeitos sobrepõem-se pela causa, compactada numa história que depois de lida fará parte do nosso mundo das coisas descobertas através da leitura.
A história do “Palhaço Verde” de Matilde Rosa Araújo parece enquadrar-se neste capítulo da ficção/ emoção, pois lida (esta história) fica-se com a sensação de que este menino bem podia ser um de nós…
Mas, o que torna esta história tão “apetecível”? Talvez o facto de ter sido tão bem pensada, escrita e recheada com detalhes tão reais que quase nos faz querer ser esse menino.
Esta história fala de um menino que ao ver-se ao espelho, descobriu em si pequenos traços de riso, de graça e como foi capaz de rir de si, achou-se capaz de fazer rir os outros.
Não um palhaço qualquer, era um palhaço que “… tinha os olhos que brilhavam como estrelas e no peito um coração de oiro…” e o sonho de fazer rir todos os meninos.
Então, arranjou umas roupas engraçadas e vestido a condizer com o riso transformou-se num palhaço. O mais lindo, o “Palhaço Verde” por causa do seu chapéu, “…verde tenro da cor dos prados…”
Uma história lindíssima e intemporal, caracterizada pela fantasia, mas adequada ao nosso tempo onde se vai sentindo a falta dos sonhos, dos bons sonhos.
Porque sonhou, Matilde Rosa Araújo escreveu esta história e entregou-no-la para que possamos sonhar.
Afinal, de onde nascem as histórias senão do sonho!
O “Palhaço Verde” é a prova disso…
Jorge Almeida