É costume dizer-se que quando alguém parte do mundo dos vivos, nomeadamente do mundo artístico, é mais uma estrela que se junta lá no céu.
Esta ideia parece enquadrar-se com o espírito da ausência forçada mas não completada, isto é, apesar de as não vermos fisicamente e a fazer fé nas estrelas, quando olharmos para o céu lembrar-nos-emos das pessoas que queremos manter vivas, e nada melhor que as estrelas.
De algumas lembrar-nos-emos com certeza pelo que deixaram, pelos trabalhos, pela presença, por tudo que fizeram e que as suportarão na longa ausência, como por exemplo os livros.
As partidas recentes de José Saramago e Matilde Rosa Araújo, configuram neste exemplo. A perda ainda que triste, não será de todo uma partida perdida pois as sua obras continuarão a mantê-los vivos e a cada livro que lermos, a cada página que virarmos é como que o sussurrar das suas vozes numa conversa de amigos. E no final de cada conversa, tida através das páginas escritas que lermos, ficam as histórias, contadas ao ouvido, o mesmo será dizer, contadas pessoalmente pois cada um de nós teve ou tem o privilégio de ler como e aonde quiser. Cada um pode escolher o momento para saborear através das letras muitos e bons segredos, muitas e boas histórias.
De José Saramago escrevi em tempos para discordar dele sobre a forma de ver e encarar a religião. No entanto, sobre o escritor tenho o maior apreço pois é (foi e sempre será) uma verdadeira força da natureza, um génio literário e a comprova-lo estão as suas obras que mantê-lo-ão para sempre vivo e para sempre um homem do nosso tempo.
Falar de Matilde Rosa Araújo é como que falar de uma fada das letras onde a cada conto seu se espalha a magia e se cria o gosto pela leitura, ou não fossem as palavras compostas por letras e, tal como ela dizia “a letra tem uma música”
Pois bem, embalados pela música das suas letras, partilhamos momentos únicos descritos em cada história como por exemplo “O palhaço verde”, “Capuchinho cinzento” entre outras histórias que só ela sabia contar e escrever.
A partida destes dois ilustres amantes das letras empobrecem a nossa vida quotidiana uma vez que ficamos privados da sua criação. Porém nunca “órfãos” pois o seu legado jamais deixará alguém (pelo menos quem gosta de ler) “desamparados”.
As suas obras continuarão a falar, a dar vida a quem nunca morrerá.
Alguém dizia que “a melhor homenagem que se lhes possa fazer é continuar a lê-los”
Assim faremos, assim será ou não fossem eles duas estrelas cintilantes cuja luz jamais de extinguirá.
Jorge Almeida