Podia muito bem ser o título de uma prece de um qualquer devoto ou simplesmente uma coisa iluminada, da qual pudesse brotar toda a luz para cobrir a escuridão ou ainda, de onde pudesse sair uma luz capaz de encandear a miséria que mina toda e qualquer forma de vida, escarnecida pela obstinada inépcia dos inadaptados providentes. É certo que há por aí “estrelas” cuja luz não chega para se iluminarem a si mesmas, quanto mais aos outros… mesmo assim, varrem tudo, tudo mesmo, porque não suportam a ideia de serem meras coisas de cor escura ou pior ainda, de já não serem nada, muito menos estrelas. Podia adiantar mais coisas sobre essas “estrelas”, mas, a estrela causadora desta crónica é outra e com pontos de interesse (para quem gosta da leitura e dos livros) bem mais importantes do que estas, que não sendo as fazem ser, mas, pelas piores razões. Esta estrela tem luz própria e o seu brilho natural não se apaga nem esmorece aos pés da escuridão, antes pelo contrário, elimina-a e torna claro os caminhos de quem de noite precisa de seguir caminho. Esta estrela é-nos apresentada pelo seu autor, Vergílio Ferreira, como “a estrela mais gira do céu, muito viva…”. Por ser tão bela, vai estimular na personagem principal desta história, Pedro, a tentação de a tirar lá do céu e levá-la para casa. Se depressa o pensou, mais depressa o fez. Dirigiu-se à igreja, subiu à torre e ainda mais acima à bola de ferro que existia na torre e já empoleirado num galo com os quatro pontos cardeais e “… enroscando as pernas no varão, tinha agora os braços livres…”. Agarrou a estrela e trouxe-a para casa. Convém dizer que no “lugar da estrela ficou um buraco escuro”, mas, Pedro radiante com a estrela não deu por isso. No dia seguinte, mal acordou, olhou para a estrela, mas desta saía apenas uma pequena luz, estaria doente? Perdera a luz? Perguntas para as quais encontrou as respostas à noite, quando ela voltou a brilhar como antes… Porém, o seu segredo foi descoberto, primeiro pela mãe, depois por um velho, muito velho que embora não soubesse quem tinha ´”roubado” a estrela, sabia apenas que no céu faltava alguma coisa, faltava uma luzinha que brilhava mais do que as outras. Com o alerta do “roubo” da estrela, gera-se na aldeia uma grande confusão, até que descoberta a estrela e o autor do “roubo”, impunha-se a reposição da mesma ao seu lugar. Quem vai? A resposta veio da boca do pai de Pedro, que se foi ele que a tirou, havia de ser ele a colocá-la no sítio. Assim, do mesmo modo que a tirou, Pedro voltou a devolvê-la ao céu, ao seu lugar. O fim desta história não nos reserva um final feliz do ponto de vista concreto, pois a personagem principal morre ao cair da torre quando descia. Porém, do ponto de vista da interpretação, a existência deixa de ser terrena, corporal para passar a ser espiritual, pois quero crer que Pedro se transformou naquela estrela que brilha no céu, pois ela (estrela) “ainda lá está, toda a gente a conhece”. Esta é a minha interpretação, o meu final feliz para esta história.
Jorge Almeida