Li este livro e fiquei seduzida pela mensagem que nos transmite e pelo jeito ilusoriamente simples de lidar com as palavras, seleccionando-as, acomodando-as em frases transbordantes de beleza.
É um livro que nos faz reflectir sobre as relações familiares, o impacto que elas podem ter nas crianças, o papel da escola, a importância da comunicação, o poder das palavras… Conta-nos a história de uma menina que morava com seus pais num grande prédio nos arredores de uma cidade. Não tinha irmãos e os seus pais estavam sempre ocupados a berrar um com o outro. Por sorte, tinha o avô. Os seus pais, nas fotografias do casamento, “tinham um brilho extraordinário nos olhos, como se uma fada tivesse deitado lá dentro lantejoulas.”. Depois, este brilho desapareceu… A menina estranhava. “Os sonhos são bolhas. De repente explodem e não fica nada. Com o nada também a luz se afasta.” – explicava o avô. As contínuas discussões dos pais eram formadas por “palavras-térmitas”, “palavras-aranhas”, palavras-escorpiões”… As palavras do avô eram muito diferentes. Não eram “palavras-pedrada-na-cara”. Em vez de fecharem as portas, abriam-nas. Eram “palavras-chave” e “palavras-manta”, “palavras-tépidas”, que aconchegam. As “palavras-lixo” deixavam-na indiferente como uma pedra no meio do deserto. As palavras da escola eram “palavras-confusão”, pois não respondiam a nenhuma das perguntas que enchiam a sua cabeça.
Quando o avô não estava, a menina sentia-se só. Ouvia a linguagem das coisas, mas não a das pessoas. Com as coisas, ela comunicava, falava sem abrir a boca, mas com as pessoas isso não era possível. A menina tinha a sensação de que ninguém gostava dela, sentia-se um nada de que todos queriam ver-se livres. E, um dia, saiu de casa e desapareceu…
O que lhe teria acontecido? Como teriam reagido os pais? Quem seria Tobias? E o Anjo?
Leia este livro e descubra as respostas.
Às vezes, é preciso perder as coisas, para perceber a sua importância…
Lídia Valadares